quinta-feira, 1 de maio de 2014

VBAC domiciliar: Quando querer é poder!



Segue abaixo o relato do parto de Alessandra Almeida. Essa guerreira nos procurou com o sonho de poder trazer seu filho ao mundo da maneira mais natural possível, respeitando os processos fisiológicos e tempo do seu corpo. Alê já tinha tido uma filha através de uma cirurgia cesariana, contudo, ela queria viver a experiência do parto, buscou informações, leu, perguntou, estudou e adquiriu o conhecimento necessário para seguramente optar pelo parto domiciliar, além disso, sensibilizou o maridão Júnior que progressivamente adotou a idéia. Eu e Waldirene Cunha, amiga e enfermeira obstetra, viajamos nesse sonho com Alê, pois há muito tempo tínhamos o desejo de assistir um parto em domicílio. Com apoio de nossas amigas Dra. Fabíola e Dra. Fátima organizamos tudo que seria necessário para esse momento.
No grande dia, no dia da chegada de Miguel, foi possível mais uma vez evidenciar a força que brota do íntimo da mulher quando exerce seu papel de leoa. Força e sensibilidade se alternavam a cada momento, culminando com o êxtase de alegria na hora do primeiro encontro com seu filho. Um grito que ecoará sempre: querer é poder.

"Sou mulher, sou mãe, sou Deusa, e assim mereço ser cuidada. Se parir faz parte da natureza, que essa força seja respeitada..."

Era dia 01 de junho de 2013, e ela não chegou, a menstruação, sempre pontual e chata. E eu tão ansiosa e apressada. Esperei dia seguinte para fazer o teste de farmácia e para minha surpresa lá estava ela a listrinha rosa!! E no dia seguinte para fazer o exame de sangue e confirmado: eu estava gravida!
Começaria tudo de novo, tantas mudanças, novos projetos, novas sensações e uma nova chance. Chance essa que me foi tirada há quatro anos, Deus estava me concedendo novamente a oportunidade de parir, de gestar um novo ser. 
E de uma coisa estava certa desde o começo, eu não ia ser enrolada novamente, eu iria ter meu parto normal. Mas até aí eu não imaginava que fosse entrar em mundo completamente desconhecido, apaixonante, que fosse me oferecer uma realidade tão diferente da que pensava que conhecia. Foi uma amiga mais que querida que me apresentou essa nova realidade, e a ela ainda tenho tudo que agradecer, ela me apresentou o mundo humanizado do PARTO.
Pronto agora não bastava ser parto normal, o meu teria que ser natural e humanizado, e para isso pesquisei, perguntei, me informei o quanto pude sobre esse assunto e como era que funcionava aqui na minha cidade. Durante 9 meses mergulhei nesse mar de informações e por muitas vezes achei que não ia conseguir. E por pouco o sistema não roubou e engoliu meu sonho novamente. Comecei meu pré-natal com a mesma GO de quatro anos atras, e fui sendo envolvida por longas 38 semanas, sempre na ilusão e esperança de que ela me apoiaria na minha decisão. #sqn
E foi no dia 24 de janeiro de 2014, com 38 semanas de gestação que tudo aconteceu. Era meu derradeiro dia de trabalho, depois estaria liberada para descansar, que o inesperado aconteceu. Da esposa de um colega no trabalho me chegou o contato de uma enfermeira, mais que isso, uma enfermeira obstétrica. Meu coração deu pulos! Na mesma hora entrei em contato e sabe quando fala com uma pessoa a primeira vez e te passa àquela confiança? Foi o que aconteceu comigo quando escutei a voz de Wal, conversamos alguns minutos e marcamos encontro na maternidade para dia 27, segunda. Enquanto isso eu fui para a consulta na GO pela tarde, e saí de lá com a decisão de não voltar mais.
Na segunda, conversamos muito, tirei muitas dúvidas, eles me examinaram e me passaram confiança que esperava, e saí tão feliz de lá, pois meu sonho estava perto de ser realizado. Quando recebi o orçamento deles e mostrei para o marido ele logo me jogou um banho de agua fria e disse que não ia me ajudar a pagar. Fiquei triste, muito triste, chorei boa parte da noite. Pela manha retornei o e-mail, explicando a situação. Passei o dia ruim, de mau humor, não parava de pensar no assunto, tinha chegado tão perto, não tive apoio de quem mais eu precisava, estava realmente desolada. Mas depois de pensar, pensar, analisar os prós e contras, eu percebi que se o sonho é meu, eu tinha que correr atrás, que se fosse necessário dar nó em pingo d’agua eu daria.
E foi aí que mandei mensagem perguntando sobre renegociação, mais parcelas e outras possibilidades, e depois de algumas mensagens fechei minha equipe e meu parto. Eu senti um alivio tão grande no meu coração, que tinha vontade de sair pulando e cantando!!
E na semana que seguiu foram duas visitas aqui em casa, a primeira nós vimos todos os detalhes, tiramos mais duvidas, discutimos meu plano de parto e foi tudo ótimo. Na segunda visita, dia 10 de fevereiro foi tranquila, me examinaram, conversamos, até Mario Junior estava mais envolvido no assunto. Escutei o coração do meu bebe e estava tudo bem! Mal sabia eu que já estava chegando a hora. 

E tudo começou... 

Na madrugada do dia 11 de fevereiro, acordei num susto as 2;15h e pensei, droga fiz xixi na calcinha e sai correndo pro banheiro, quando vi não era xixi, mas tinha uma gosma na calcinha, tampão mucoso! Tomei banho e voltei pra cama, porque sabia que saída de tampão podia não significar nada. Mais tarde, mais exatamente as 3h, quando já estava entrando num soninho novamente , comecei a sentir escorrer agua, e novamente pensei ser xixi, mas como eu não consegui segurar, abri aquele sorriso e pensei: minha bolsa rompeu. Até então meu marido estava dormindo no quarto com Anna Laura, fui lá e falei. Decidi que não ligaria naquela hora pra Wal, não estava sentindo nada ainda, mesmo ela dizendo que tinha que ligar na mesma hora. Depois disso ninguém mais conseguiu dormir, só cochilos. Quando foi 6h novamente saiu mais agua, foi então que liguei pra Wal, ela que ia sair de plantão, vinha direto pra cá! E ia ligar pra Théo!


Quando Wal chegou, a primeira coisa a fazer foi escutar o coração e ela pediu pra fazer um toque pra verificar como eu estava. Eu estava com cerca de 1,5 cm de dilatação. Estava tranquila, cólicas fracas. Eu andava, comia, conversava, cantava para distrair, aonde eu ia meu celular ia com minha playlist do parto. As contrações ficaram um pouco mais fortes, e a cada hora Wal vinha verificar os batimentos de Miguel. Eu estava tão feliz!!! 

Wesley, o fotografo chegou. Minha mãe chegou. Théo chegou com bola, incenso e suas massagens milagrosas. Estava tudo tão maravilhoso, tudo como eu sempre sonhei. Teve um momento que as contrações diminuíram, fiquei com medo de não conseguir, mas teve um momento de silencio, e esse foi momento ideal, porque comecei a me conectar comigo, sentir mais meu corpo se preparando e me conectando interiormente com ele.


E eu rebolei na bola, rebolei em pé, rebolei agachada, senti vontade de dançar, mas confesso, fiquei com vergonha de algumas pessoas que ali estavam e desisti. Recebi massagem nas costas, na barriga, nos pé e nas mãos e com tudo isso cada vez mais minhas contrações aumentavam e eu gemia com elas e era bom! Às 14 horas, eu já estava em trabalho de parto ativo, a coisa começava a pegar, pois as dores já estavam bem fortes.


Fui pro chuveiro quente pra aliviar, foi bom, fiquei muito tempo lá, nem me lembro quanto, sei que minha filha foi comigo e me fez uma massagem deliciosa, ô momento bom. Decidi sair do banho e me pediram pra olhar a dilatação novamente, deitei na cama e na mesma hora senti uma contração muito forte que gritei e não mais gemi. Depois que passou foi engraçado, na hora que eu abri as pernas pra Théo fazer o toque nem precisou, pois ele já estava sentindo a cabeça de meu bebe, chamou até Mario Junior pra ver e sentir.

Como eu queria receber meu filho na agua fui pra piscina, mas infelizmente não deu, pois a temperatura da agua não estava adequada pra parir, não estava dando tempo de ficar sempre quente, segui a sugestão de Wal e fui para banqueta, mesmo um pouco decepcionada.

Já na banqueta eu não conseguia mais abrir meus olhos, eu não ouvia nem via mais ninguém, não queria que me tocassem, era um momento tão intimo, tão meu, a dor já estava no seu ápice, mas eu não nem pensei em desistir, eu só queria ter meu filho, eu só pensava nele, só o sentia empurrando naquele momento tão extasiante.
Eu não me lembro muito desse momento, só o que disseram depois. Atingi a dilatação completa mais ou menos as 15:30h. E quando eu pensei que ele não ia sair, eu senti a cabeça dele, só uma pontinha, um momento rápido e eletrizante, mas estava lá pra renovar a minha força, e eu senti aquele fogo, a como ardeu, eu senti e foi nessa hora que eu senti vontade tão grande de fazer força que eu fiz, eu gritei, eu não era eu, naquele momento me senti muito mais que mulher, eu era a mamífera, a leoa que tanto ouvi falar, e foi nesse único empurrão que Miguel saiu, eu o expulsei numa contração muito forte e intensa, (palavras da minha EO) não foi difícil, foi rápido, posso até dizer que foi gostoso, pois quando eu pensei que a dor ia ficar insuportável, não senti mais nada de dor, acabou? Me dá um suco? rsrs


Não teve aquela paradinha no coroamento. Ele nasceu com uma circular no pescoço que só foi retirada depois de aparado por Wal, que imediatamente o entregou em meus braços e eu pude senti-lo, toca-lo, aquele sentimento divino, de felicidade, satisfação, amor invadiu meu corpo, meu coração e minha alma. Eu não queria solta-lo nunca mais.
Nasceu forte com 3,318kg, não chorou apenas ronronou parecendo um gatinho, grande com 52 cm e lindo como eu sempre imaginei. O cordão parou de pulsar e foi cortado pelo pai, mas não lembro desse momento, estava me apaixonando ainda mais por Miguel! Rs “O laço que nos uniu por 9 meses foi cortado, mas nasceu ali o laço invisível mais forte que qualquer outro, o laço do amor.

Minha placenta descolou e saiu suavemente intacta e perfeita”,(palavras de minha EO) mas infelizmente esqueci de falar que queria fazer a foto dela, então foi pro lixo. Eu me realizei como mulher, fui persistente, fiz o MEU momento, vivi na minha intensidade o amor, provei para todos que sou capaz, que meu corpo funciona, eu gritava internamente: Eu consegui! Eu pari! Meu corpo pariu cercado de liberdade, respeito, amor, muito amor, eu me redescobri como mulher e como mãe.

Só tenho a agradecer, a Deus porque foi Nele que eu depositei toda minha esperança, A Camila faria que me apresentou o mundo da humanização, ao grupo -Cesárea? Não Obrigada- que me ajudou a tirar todas as minhas duvidas sobre VBAC, a Wal e Théo que foram os anjos que assistiram meu parto e facilitaram o pagamento e me ajudam até hoje com qualquer coisa, a meu marido que mesmo com todo medo e desconfiança não saiu de perto e estava lá quando precisei, a todas as mulheres que relataram seus partos e me ajudaram a me empoderar. Parir não é fácil, mas vale a pena! Nada é como antes... 



Alê, Júnior, Ana e Miguel, será sempre emocionante lembra e contar a história de vocês. Parabéns pela família.



Segue o link do vídeo!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um pouco de Humor para refletir...


     Com o sucesso do personagem Félix vivido pelo ator Mateus Solano na telenovela Amor à Vida, muitas são as piadas e brincadeiras que surgem com o jeito de ser, trejeitos e jargões do personagem. Dessa vez, o Félix apareceu defendendo inúmeras causas que circulam nas discussões quanto a prática obstétrica humanizada e baseada em evidências científicas. Circula nas redes sociais posts do Félix, Doulo e parteiro humanista que através do seu humor crítico/satírico denuncia e nos faz refletir práticas vividas cotidianamente no tocante a forma de gestar e parir. Aproveitem para rir e refletir.


        

        

       

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Parto Normal da guerreira Maria Isabel - Depoimento


           Ainda sinto muita emoção toda vez que lembro do dia 08-08-2013. Nunca esquecerei esse dia, pois ele, seguramente, foi o mais importante da minha vida!
           Era 1h e 29min da madrugada quando minha bolsa estourou e eu tranquilamente acordei meu marido. Nesse momento, eu ainda não sentira nenhuma contração, pedi para que ele ligasse para a minha mãe e minha sogra enquanto eu iria tomar um banho.
           Durante toda a minha gravidez eu não tinha absolutamente nenhuma dúvida sobre o meu parto... Eu desejava muito um parto humanizado e, desde o pré-natal, preparei-me para ele. Conversei com Théo, que foi meu professor de obstetrícia na faculdade e me deixou eternamente encantada pela disciplina, ele topou fazer meu parto.
           Chegamos na maternidade por volta das 3hs, fui examinada por um colega enfermeiro. Sua presença me deixou mais tranquila, com a sensação de que dali em diante eu estaria amparada e bem assistida. Eu estava apenas com 1cm de dilatação.
           Às 6 horas da manhã colocaram o 1ª comprimido de misoprostol para indução do trabalho de parto, e eu sentira apenas algumas cólicas bem fracas... Comecei a ligar para Théo e ele não atendia, então eu fiquei um pouco angustiada, mas no fundo sabia que ele retornaria ao ver minhas ligações. Às 8 horas ele retornou minha ligação, disse-me que iria fazer uma prova e que quando acabasse iria direto para a maternidade. Isso me deixou imensamente tranquila.
            Por volta de12h, Théo chegou e já estava na hora de colocar o 2º comprimido de misoprostol, então ele aproveitou para me examinar. Eu estava com 3cm de dilatação, o que significava que ainda ia demorar um pouco.Nesse período Thiago (meu marido) ficou me acompanhando. Me surpreendi com Thiago, ele estava muito tranquilo e isso me ajudou bastante. Aos poucos as contrações começaram a ficar muito mais próximas umas das outras e um bocado mais dolorosas. A cada contração Thiago fazia massagens nas minhas costas... Ah e como isso era maravilhoso, aliviava  muito as dores. Embora
estivessem suportáveis eu estava começando a ficar ansiosa e agitada. Ia para debaixo do chuveiro, ia para cama, caminhava pelo corredor de mãos dadas com o marido, ia para bola, fazia agachamento, pedia massagens nas costas e voltava para cama, mas, em nenhum momento fiquei com medo.


           Às 15hs 30min finalmente Théo e minha mãe voltaram, nessa hora, já não sei dizer o quanto ou como doía, parecia que eu estava concentrada em algo que me tirava do mundo, em uma espécie de transe, tentava cochilar mas não conseguia... e a cada contração sentia uma vontade enorme de gritar.
Fomos para a outra sala, lá tinha a piscina, a banqueta de parto...
           Fiquei um bom tempo na piscina, a água estava bem morninha, o que foi ótimo, pois relaxou bastante a musculatura. Tinha também incensos e o cd com músicas que eu havia preparado tocava. Eu realmente estava me sentindo especial. Ao ser examinada novamente por Théo, ouvi algo como "está com nove centímetros de dilatação, ela já está bem encaixada e só com um restinho de colo". Pensei estar sonhando quase não me contive de alegria. Embora a dor fosse intensa, ele ficava lembrando que eu precisava respirar profundamente e que pensasse na minha filha... e isso me deixava mais segura. Em poucas horas a nossa Maria clara estaria enfim em nossos braços.



          Nesse momento não estava mais me sentindo bem em ficar na piscina, sei lá estava achando a água suja, então pedi para ficar na banqueta, onde eu ficava numa posição sentada e minha mãe e meu marido ficavam revesando o apoio por trás, me dando uma incrível sensação de amparo, acalento e conforto.
          Logo depois veio a vontade de fazer força, muita força e eu só seguia os meus instintos... Durante toda a gravidez eu pensei que iria conseguir ficar quietinha na hora do parto, tinha a sensação que gritar na hora do parto era feio, mas sentia que quanto mais gritava, mas isso ajudava minha bebe nascer. E eu posso garantir que, pudores a parte , eu gritei com muita vontade.Também lembro que bebi muita, muita, muita água, a cada intervalo entre uma contração e outra pedia um copo com água.
            Não tenho a menor ideia de quanto tempo durou o meu período expulsivo, acho que foi em torno de 1 h. Fazia força, achava que as coisas não estavam progredindo, mas sempre ouvindo palavras de incentivo que foram essenciais nesse momento. Théo repetia que estava quase lá, que tudo estava perfeito, que Maria Clara estava descendo. Numa determinada contração senti o bebê passando pela vagina e percebi que tinha chegado a hora de sair. Fiquei super animada e fiz o dobro de força. Na próxima, o dobro e mais um pouco, até que dei um grito, como um bicho!!! Não lembro como, mas senti o bebê chegando, a cabeça me queimando e logo o resto do corpinho, senti um alívio enorme.
           "Nasceu!!! Nasceu a Maria Clara!!!" disse minha mãe, super emocionada. E aí foi um chororó só! Era um misto de alivio, alegria e emoção. Ela veio direto para os meus braços. Que sensação tão mágica segurar aquele bebezinho. Ainda lembro do rostinho dela pertinho do meu e daquela mãozinha tão frágil que segurou forte no meu dedo.O cordão foi cortado pelo pai, somente após parar de pulsar.
Ela estava em paz. Tudo estava em paz. Esse é o milagre da vida. Que sensação tão perfeita. Estava realizada, tudo tinha acontecido como esperava e sonhava. A sensação era de vitória, de batalha vencida. Batalha mesmo, contra padrões estabelecidos que eu quebrei, de fazer diferente de todas as pessoas. Fiz do meu jeito e hoje me sinto mais forte, mais mulher, e, certamente mais feliz!!!




Maria Clara nasceu às 18h20 do dia 08/08/2013 com 48 cm e 2950 g.

Maria Isabel - Mãe de Maria Clara

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Violência Obstétrica - A voz das brasileiras

Há algum tempo não tenho feito posts por falta de tempo mesmo...muito trabalho...Mas hoje trago um vídeo acerca da violência obstétrica que muitas mulheres sofrem caladas. Caladas pelo medo, caladas, pelo imperativo do saber científico, caladas pela falta de conhecimento dos seus direitos...Depoimentos emocionantes das mulheres e suas dores...porque essas são dores da violência velada e institucionalizada.
 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Encontro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal da Bahia

       Por Théo Oliveira



          Aconteceu nos dias 31 de maio e 01 de junho de 2012 o I Encontro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal da Bahia realizado na Universidade UniJorge, Salvador-Ba. O tema central do encontro discutia a implantação da Rede Cegonha no estado baiano. Foi possível durante as discussões conhecer mais sobre o programa, sua forma de operacionalização, as possibilidades e seus entraves.
        Na mesa de abertura do evento participaram a diretoria da ABENFO - BA (Associação Brasileira de Enfermagem Obstétrica e Neonatal), o presidente da ABENFO nacional, o Prof. Herdy Alves, uma representante da área técnica de saúde da mulher do Ministério da Saúde, e enfermeiros que coordenam a Rede Cegonha na Bahia e em Salvador. No discurso de abertura, a presidente da ABENFO-BA falou acerca das atribuições do enfermeiro, da Rede Cegonha como marco político e social e da necessidade de união entre os profissionais de saúde nas diversas categorias.


                           Enf. Rita Calfa, presidente de ABENFO-BA no discurso de abertura
                                         

        Os debates e discussos forma bastantes enrriquecedores. Particularmente, foi  possível se emocionar, encher os olhos de esperança e reacender a chama de Florence Nightingale: a do cuidado e do amor ao próximo. Foi muito bom comungar com diversos atores que refletem e trabalham a favor da saúde da mulher, da maternidade segura e da construção diária por um sistema de saúde digno da grandeza do nosso povo.
         Participei de uma mesa redonda na qual discutiamos modelos de atenção ao parto e nascimento como métodos para qualificar o cuidado. Na oportunidade, apresentei o trabalho que desenvolvemos na Maternidade Municipal de Juazeiro e pude dialogar vivências com outros enfermeiros que atuam  na Maternidade Tsylla Balbino e no Centro de parto Normal da Mansão do Caminho, ambas instituições de Salvador.

           
        Discutiu-se por fim, o papel da enfermagem e sua contribuição para a (re)construção de um modelo obstétrico menos medicalizado e voltado ao reconhecimento da individualidade, das necessidades e da capacidade de cada mulher lidar com seu processo parturitivo. Ademais, de reconhecer a gestação como instância fisiológica da natureza feminina e acreditar nela como oportunidade de amadurecimento, transformação e prazer a cada ciclo que se vivencia. Parabéns a ABENFO-BA pela realização de um evento sumariamente importante para o fortalecimento das políticas de saúde e fortalecimento da enfermagem.

domingo, 3 de junho de 2012

Como prevenir as dores nos seios durante a amamentação


Dor e desconforto são as principais oposições de mães de filhos pequenos que estão na fase da amamentação. As reclamações acontecem porque os bebês costumam morder os seios ao invés de apenas sugá-los. Os dentes que saem primeiro são os de baixo. Nesse período, ele ainda não incomoda tanto a mamãe. O incômodo começa mesmo entre os oito meses e o primeiro ano de vida da criança, quando então ela apresenta quatro dentinhos em cima e outros quatro na parte inferior.

A vantagem é que nessa época o bebê já pode almoçar e jantar. Se for muito doloroso para a mãe, ela pode, por exemplo, descartar a mamada da tarde e substituir o leite por um mingau. Isso acontece porque o bebê ou está muito ansioso, achando que aquela mamada é a última da sua vida, ou então, porque, já está satisfeito com a quantidade de leite recebida. Se a mulher achar que o filho ainda não está saciado, pode esperar uns 15 minutos para voltar a amamentar.

Existem técnicas de prevenção “antimordidas” que ajudam bem nessas horas de desconforto. A primeira, é que mãe massageie as gengivas do bebê com o dedo antes de alimentá-lo. Dessa forma ele fica mais relaxado. Outro truque é o uso daquelas massinhas que os dentistas usam para proteger o aparelho ortodôntico da mucosa.  E por fim, não deixar que a criança fique com tanta fome, pois isso causa muita ansiedade nela.

Há casos em que a mãe deixa de amamentar o filho por causa das fortes dores que sente, mesmo sabendo dos benefícios e a importância do leite materno para a criança. A amamentação tem que ser prazerosa para os dois. Se ele está mordendo, alguma coisa de errado tem, porque o ideal é ele sugar. Em alguns casos, o bebê até sente as situações do ambiente familiar. Se a mamãe não está legal com o papai, se o ambiente em casa é tenso...

Outra dica interessante é ter mordedores em casa. Eles ajudam a tranquilizar os bebês. A dendição da criança é um processo delicado e muitas vezes irritante para eles. Isso porque a produção começa embaixo da gengiva, já no segundo, terceiro mês de vida. É quando também eles sentem muitas coceiras, o que justifica as centenas de vezes que levam as mãozinhas e os objetos à boca.

Contudo, não esqueçam: até o seis meses o aleitamento deve ser exclusivo para garantir uma melhor saúde para seu filho. Papinhas, frutas, água e chás só depois desse período e ainda de maneira gradativa, alternando com as mamadas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sobre Versão Cefálica Externa (VCE)


                                                                                                       Por Melânia Amorim*

Cerca de 3% dos bebês chegam ao termo em apresentação pélvica. Embora o parto normal seja possível nesses casos, há um aumento do risco relativo de morbidade e mortalidade perinatal e o prognóstico dos bebês pélvicos, independente da via de parto, é ligeiramente pior do que o de bebês cefálicos. Na revisão sistemática da Cochrane sobre cesariana vs. parto vaginal programado para os casos de apresentação pélvica, a mortalidade perinatal foi de 0,26% e 1,15%, respectivamente.

Tentando prevenir o nascimento de um bebê em apresentação pélvica, várias alternativas têm sido propostas, desde medidas posturais (exercícios), uso de moxabustão, acupuntura e a versão cefálica externa (VCE).

A versão cefálica externa consiste na manobra de reposicionar o bebê que se encontra em apresentação pélvica, "virando-o" dentro da barriga através de movimentos manuais combinados com pressão no abdome materno. Era um procedimento relativamente comum na Obstetrícia do passado, mas durante as décadas de 70/80 sua popularidade caiu muito entre os obstetras, devido a alguns relatos e séries de caso demonstrando efeitos adversos. É por isso que muitos obstetras, ainda hoje, condenam o procedimento.

No entanto, estudos mais recentes, a partir da década de 90, têm demonstrado as vantagens do procedimento, desde que realizado por pessoas experientes, com avaliação ultrassonográfica prévia, sugerindo-se o uso prévio de tocolíticos (drogas para diminuir a contratilidade uterina) e a monitoração da vitalidade fetal depois do procedimento. Uma revisão de 44 estudos com 7377 pacientes que se submeteram a uma tentativa de VCE evidenciou que a a complicação mais frequentemente relatada foi alteração transitória da frequência cardíaca fetal (em torno de 6%). Complicações menos frequentes foram sangramento vaginal (0,5%), descolamento prematuro da placenta (0,1), cesariana de emergência (0,4%) e mortalidade perinatal (0,16%) (Collaris 2004). Devido ao risco de isoimunização Rh, a profilaxia com imunoglobulina anti-D é recomendada para gestantes Rh-negativas que se submetem ao procedimento.

Duas revisões sistemáticas da Biblioteca Cochrane estão disponíveis abordando a VCE no termo e pré-termo. Na primeira revisão (2009), foram incluídos sete estudos, com 1245 mulheres. Observou-se uma redução significativa dos nascimentos não cefálicos (RR=0,46; IC 95%=0,31 - 0,66) e de operação cesariana (RR=0,63; IC 95% = 0,44 - 0,90), sem diferença significativa nos escores de Apgar, pH do sangue do cordão, admissão em UTI e morte perinatal. A taxa de cesariana foi de 19,4% no grupo submetido a versão e de 29,6% no grupo não submetido ao procedimento.

Chama a atenção que a taxa de cesariana, apesar de se reduzir significativamente com a VCE, ainda persiste relativamente elevada (em torno de 20%) em mulheres submetidas a VCE bem sucedida, quando comparadas com mulheres com bebês em apresentação cefálica espontânea (taxa de cesárea em torno de 6%) em diversos estudos, sugerindo que alguma sutil anormalidade subjacente, do concepto, do cordão ou da anatomia pélvica podem estar associadas à apresentação pélvica persistente no termo. No entanto, como os grandes estudos observacionais sugerem que complicações do procedimento são raras e que a VCE reduz tanto a chance de nascimento não cefálico como de cesariana, os autores da revisão Cochrane sugerem que há fortes razões para o uso clínico da VCE a termo, com as devidas precauções, em qualquer mulher para quem a chance aumentada de um nascimento cefálico supera os riscos do procedimento.

Em outra RS Cochrane avaliando os efeitos da VCE pré-termo (antes de 37 semanas), comparou-se uma política de VCE iniciando-se entre 34 e 35 semanas com a não-realização de VCE ou VCE a termo. Comparada com nenhuma tentativa de VCE, VCE antes do termo reduz o risco de nascimentos não-cefálicos. Comparada com a VCE a termo, iniciar VCE entre 34 e 35 semanas parece ter algum benefício em termos de reduzir a taxa de apresentação não cefálica e cesariana. No entanto, como a metodologia dos estudos incluídos variou bastante e os dados foram insuficientes para avaliar complicações, os autores sugerem que, apesar de essas evidências serem promissoras, não são adequadas para apoiar uma política de iniciar VCE antes do termo. Como os resultados da VCE a termo já estão bem estabelecidos, até que novas pesquisas forneçam evidências mais conclusivas em torno da segurança da VCE antes do termo, recomenda-se que o procedimento seja oferecido depois de 37 semanas de gravidez para mulheres com feto único em apresentação pélvica e sem contraindicações.

As contraindicações para VCE são: gravidez múltipla, malformações fetais graves, vitalidade fetal comprometida ou morte fetal, outra indicação de cesárea independente da apresentação (p.ex. placenta prévia) e membranas rotas. Contraindicações relativas incluem cesárea anterior, restrição do crescimento fetal e sangramento uterino, porém as evidências não são suficientes para proibir a versão nesses casos.

O procedimento para versão cefálica externa é relativamente simples, e pode ou não ser monitorado por ultrassonografia. Alguns métodos podem ser utilizados para aumentar a chance de sucesso da versão, mas o mais comum e que oferece bons resultados é o uso de terbutalina (250mcg SC 15 a 30 minutos antes do procedimento) para diminuir a contratilidade uterina. Quando uma primeira tentativa de versão falha, mesmo com terbutalina, recomenda-se repetir o procedimento sob anestesia raquidiana, que promove o relaxamento da parede abdominal e aumenta as chances de sucesso.

Várias organizações recomendam que a VCE seja oferecida a todas as mulheres com apresentação pélvica a termo, como por exemplo o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), a Royal Dutch Organization for Midwives (KNOV) e a Dutch Society for Obstetrics and Gynaecology (NVOG).

Em suma, apesar de alguns obstetras ainda acreditarem que o procedimento é obsoleto e não deve mais ser adotado, todo um corpo de evidências nos últimos 20 anos tem demonstrado o contrário. A versão cefálica externa deve ser incorporada à prática obstétrica, uma vez que reduz expressivamente tanto os nascimentos não cefálicos como as taxas de cesariana. Em uma época em que muitos obstetras perderam a habilidade de conduzir adequadamente partos pélvicos, a VCE surge como uma alternativa atraente e segura para mulheres com bebês em apresentação pélvica que querem ter parto normal, mas não estão seguras ou não encontram obstetras dispostos a prestar assistência ao parto pélvico.


* Melania Amorim, MD, PhD Currículo Lattes Médica formada pela UFPB Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo IMIP Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO Mestre em Saúde Materno-Infantil pelo IMIP Doutora em Tocoginecologia pela UNICAMP Pós-doutora em Tocoginecologia pela UNICAMP Pós-doutora em Saúde Reprodutiva pela OMS Professora de Ginecologia e Obstetrícia da UFCG Professora da Pós-Graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP Colaboradora da OMS e revisora da Biblioteca Cochrane.