sexta-feira, 25 de março de 2011

De 06 a 08 de Julho em Belo Horizonte: 7ª Edição do COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal

         
           O VII Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal – VII COBEON - é uma atividade bienal promovida pela Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras – ABENFO Nacional, planejado para o período de 06 a 08 de julho de 2011, na cidade de Belo Horizonte/MG em parceria com a ABENFO-MG, com a participação estimada de 1.200 a 1500 congressistas. 
           A ABENFO Nacional, filiada à Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) desde sua criação, tem estabelecido parcerias com varias instituições.  Estas parcerias têm como finalidade  somar esforços para a construção da melhoria da qualidade de vida de mulheres, de famílias e de neonatos, assim como da humanização do parto e nascimento e ainda a democratização do conhecimento em seus diferentes modos de produção. 
         A ABENFO Nacional congrega obstetrizes, enfermeiras (os) obstetras, habilitados e especialistas na área de Saúde da Mulher e do Recém-nascido como sócios efetivos e, como sócios especiais, enfermeiras que atuam nas áreas da Saúde da Mulher ou Neonatal, parteiras cadastradas na Rede Nacional de Parteiras Tradicionais, técnicos e auxiliares de enfermagem, bem como estudantes de cursos de graduação em Enfermagem e Obstetrícia. 
         O COBEON, como evento oficial da ABENFO Nacional, vem sendo oferecido à comunidade de profissionais de enfermagem que trabalham na área da saúde da mulher e do recém-nascido de forma sistemática. Assim,  o I COBEON ocorreu na cidade de  São Paulo/SP em julho 1994; o II COBEON, no Rio de Janeiro/RJ em julho de 2000; o III COBEON, em julho de 2002, em Salvador/BA, o IV COBEON em São Pedro/SP em 2004, o V COBEON em Bento Gonçalves/RS, em 2007 e o VI COBEON, em Teresina/PI, no ano 2009. A ABENFO Nacional e suas Seccionais promovem ainda outros eventos de cunho científico cultural em nível nacional, regional e local. 
        Em sua sétima edição, o COBEON será realizado concomitantemente a um novo evento. Acontecerá pela primeira vez, o Congresso Internacional de Enfermagem Obstétrica e Neonatal (I CIEON). Nesse mesmo período acontecerá também o V Fórum Nacional de Políticas de Atuação de Enfermeiros e Obstetrizes na Assistência à Saúde da Mulher e do Neonato e o VIII Encontro Mineiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. 



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domingo, 20 de março de 2011

PARTO DOMICILIAR: estratégia de emponderamento da mulher.


Estou postando uma sequência de belíssimas fotos do trabalho de Marilanda Lopes de Lima e Tânia Maria de Almeida Silva apresentado na III Conferência sobre Humanização do Parto e Nascimento em Brasília-DF. Achei o trabalho muito bonito e não poderia deixar de compartilhar. O trabalho é INSPIRADOR...











Episiotomia na Obstetrícia Moderna: porque restringir seu uso?

Por Melania Amorim



A episiotomia consiste na incisão do períneo para ampliar o canal de parto, e sua prática foi historicamente introduzida no século XVIII por uma parteira irlandesa, Oud (1741), para ajudar o desprendimento fetal em partos difíceis. Embora não tenha ganhado popularidade no século XIX, o procedimento tornou-se disseminado no século XX em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos da América e países latino-americanos, entre eles o Brasil. Foi a época em que a percepção do nascimento como um processo normal requerendo o mínimo de intervenção foi substituído pelo conceito do parto como um processo patológico, requerendo intervenção médica para prevenir lesões maternas e fetais.

A popularidade da episiotomia difundiu-se enormemente a partir das recomendações de obstetras famosos, como Pomeroy e DeLee. Este último, na década de 1920, lançou um tratado em que recomendava episiotomia sistemática E fórceps de alívio em todas as primíparas. A finalidade da episiotomia, de acordo com os postulados de DeLee, seria reduzir a probabilidade de lacerações perineais graves e o risco de trauma fetal, e isso passou a ser aceito como verdade incontestável e transcrito em tratados de obstetrícia, embora não tivesse sido comprovado em nenhum estudo clínico na época.

A prática da episiotomia foi grandemente alargada nas décadas subseqüentes, coincidindo com o número progressivamente maior de partos hospitalares a partir da década de 1940, nos EUA. Esta mudança no local de parto gerou uma série de intervenções que não se baseavam em nenhuma evidência científica. Alguns autores mencionam que a prática da episiotomia aumentou consideravelmente a partir da década de 1950 porque muitos médicos acreditavam que sua realização reduzia significativamente o período expulsivo, o que lhes permitia atender rapidamente a grande demanda de partos hospitalares, às vezes simultâneos. Deve-se destacar que o uso se tornou bem mais freqüente com a adoção do parto em posição horizontal (baseado fundamentalmente no conforto no obstetra) e da prática sistemática do fórceps de alívio, requerendo "espaço extra" para a manipulação vaginal.

O número de episiotomias só passou a se reduzir a partir da década de 70, quando os movimentos de mulheres e as campanhas pró-parto ativo passaram a questionar o procedimento. Concomitantemente, foram publicados os primeiros estudos clínicos bem conduzidos sobre o tema, em que se questionava o uso rotineiro de episiotomia. Destaca-se a importante revisão de Thacker e Banta, publicada em 1983, em que se demonstrou, além da inexistência de evidências de sua eficácia, evidências consideráveis dos riscos associados ao procedimento: dor, edema, infecção, hematoma e dispareunia. Apesar de ter tido pouco impacto na comunidade científica na época, este estudo despertou o interesse de se estudar sobre episiotomia, e posteriormente foram conduzidos ensaios clínicos randomizados bem controlados, dos quais o maior foi um estudo argentino, publicado em 1993.

A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane (Carroli e Belizan), atualizada pela última vez em 1999, inclui seis ensaios clínicos randomizados e um total de 4850, submetidas à episiotomia de rotina ou seletiva. No primeiro grupo, 73% receberam episiotomia, contra 28% no segundo grupo. Os autores concluíram que os benefícios da episitomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina.

Baseando-nos nesses resultados da revisão sistemática, bem como nas conclusões de diversos outros estudos randomizados desde então publicados, podemos afirmar que:

1) Não há diferença nos resultados perinatais nem redução da incidência de asfixia nos partos com ou sem episiotomia, ou seja: os bebês nascem muito bem sem episiotomia, e não há necessidade de realizá-la com esse intuito.

2) Não há proteção do assoalho pélvico materno: a episiotomia não protege contra incontinência urinária ou fecal, e tampouco contra o prolapso genital, associando-se com redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas.

3) A perda sanguínea é mais volumosa (em torno de 800ml contra 500ml no parto vaginal espontâneo), utiliza-se uma maior quantidade de fios para sutura e há mais dor perineal quando se realiza episiotomia.

4) A episiotomia é per se uma laceração perineal de segundo grau, e quando ela não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração ou surgirem lacerações anteriores, de primeiro ou segundo grau, mas de melhor prognóstico.

5) A episiotomia não reduz o dano perineal, ao contrário, aumenta-o: nas episiotomias medianas é maior o risco de lacerações de terceiro ou quarto graus.

6) A episiotomia aumenta a chance de dor pós-parto e dispareunia.

7) A episiotomia pode cursar com complicações como edema, deiscência, infecção (até fasciíte necrosante) e hematoma. A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde não é de proibir a episiotomia, mas de restringir seu uso, porque em alguns casos ela pode ser necessária. Não está muito claro em que situações a episiotomia é, de fato, imprescindível, porque até mesmo partos instrumentais (fórceps ou vácuo-extração) podem ser realizados sem episiotomia. Fala-se muito em "ameaça de ruptura perineal grave", para prevenir rupturas de terceiro ou quarto grau, mas o que, clinicamente, caracteriza essa "ameaça" ainda não está definido.

A episiotomia não é útil na distocia de ombros, porque o problema neste caso é uma desproporção dos ombros fetais com a pelve óssea, e não com o períneo da mãe. Possivelmente esses aspectos serão desvendados em estudos futuros. É importante lembrar que, como todo procedimento cirúrgico, a episiotomia só deveria ser realizada com o consentimento pós-informação da parturiente. O planejamento em relação a esta e outras intervenções também deve fazer parte do plano de parto.

O ideal é que a taxa de episiotomia nos diversos serviços seja inferior a 30%, o que já é realidade em muitos países europeus. A taxa de episiotomias também vem caindo significativamente nos EUA, embora ainda persista elevada: o percentual de episiotomias em partos vaginais variou de 65,3% in 1979 para 38,6% em 1997.

Infelizmente, no Brasil, a situação é ainda mais crítica, porque o procedimento é realizado em cerca de 94% dos partos vaginais. No país que é o segundo "campeão" mundial de cesáreas, quando não se corta por cima, se corta por baixo (Diniz e Chachan, 2004). Urge nos mobilizarmos contra essa prática abusiva, porque reduzir procedimentos cirúrgicos desnecessários é essencial na luta pela humanização do parto e na promoção de cuidados baseados em evidências.

terça-feira, 15 de março de 2011

QUE PERFIL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE ESTÃO SENDO FORMADOS?

                                                                                                                             Por Teógenes de Oliveira


  
              Hoje ao retornar para meu setor de trabalho após uma reunião do grupo de humanização da maternidade que presto serviço deparei-me com uma cena que ia de encontro ao modelo de assistência humanizada e holística, e, que me fez refletir sobre a formação dos novos profissionais de saúde. Que referências eles estão tendo nas universidades? Como estão sendo formados? Que posturas, visões, atitudes estão adiquirindo nos centros de formação profissional/ pessoal?
               Na reunião discutia-se protocolos de assistência humanizada a mulher vítima de violência. Ao sair para reunião havia deixado alguns estudantes que estão no final dos seus cursos de formação profissional avaliando as pacientes que estavam em trabalho de parto. Ao retornar paro o serviço, encontro num quarto uma paciente que a pouco tempo havia chegado ao setor. A parturiente estava deitada, um estudante aferindo a pressão arterial, outro fazendo ausculta dos batimentos fetais, outro realizando o toque vaginal e um outro estudante à porta do quarto observando o exame. Ao ver a cena fiquei inquieto pela a quantidade de pessoas dentro do quarto, fazendo tudo ao mesmo tempo e sem preservar a integridade física da mulher. Perguntei a um dos estudantes o nome da paciente, mas nenhum soube responder. Na hora, pedi para todos se retirarem e pedi desculpas a paciente por ela está exposta daquela maneira.
                Ao chegar no posto de enfermagem sentei e refleti sobre aquela cena. Eu que a pouco tempo estava discutindo assistência a mulher vítima de violência vi uma parturiente ali: totalmente passiva no seu leito com pessoas que ela jamais conhecera anteriormente, mexendo, tocando, manipulando, observando...se quer sabiam seu nome ou tiveram interesse em saber. Estavam preocupados com a pressão, com os batimentos, com a dilatação... vi aquela mulher em trabalho de parto sendo violentada, não fisicamente, mas no seu direito de mulher e mãe. Violentada em seu anseios, nas suas vontades, no seu direito de escolha, de conhecimento. Violentada na sua liberdade, na liberdade do seu ser, ser humana.
                 Nesse contexto, há que se discutir os valores que estão sendo ensinados nas instituições de ensino superior, aqueles valores que não vemos e que não descobrimos através de exames e toques...os da dignidade humana. É preciso perceber o outro como ser humano, o outro que se entrega em nossas mãos, que nos confia suas necessidades, dores, pudores ecuidados...não como objeto de investigação, inerte, passivo, alheio de suas vontades. Gente cuidamos de seres humanos. GENTE cuidamos de GENTE!!!
                Estamos vivendo uma evervescência científica no tocante a novas percpções e condutas na assistência a saúde da mulher; tantos eventos, congressos, fóruns e debates que fomentam, juntam esforços e levantam a bandeira de uma nova (re)estruturação do modelo assistência a saúde da mulher, em especial, ao parto e nascimento humanizado. Contudo, me preocupa pensar que a medicalização do corpo feminino, o tecnicismo, o biologiscismo, a visão (re)cortada do ser humano, encontram-se ainda fortemente arraigados na formação em saúde e no próprio fazer saúde. Essas evidências são tantas durante nosso exercício profissional... parece que se continuam perpetuando aquela saúde bem antes da criação do PAISM (Política de Atenção Integral a Saúde da Mulher): direcionada a uma mulher recortada anatomicamente com a restrita função de procriação, sem qualquer direito;
                 Falta incluir nos currículos acadêmicos, ou melhor, inscitar, encorajar, fortalecer, ENSINAR e PRATICAR uma saúde voltada para o ser humano... para o idoso mal cheiroso cheio de feridas por conta da diabetes, da criança que passa fome e que bebe água contaminada, dos homens e mulheres depressivos consumidos pela própria sociedade, para a adolescente maltratada e abusada sexualmente... para aquela gestante ansiosa, com medo do trabalho de parto, com medo da vida que carrega no ventre, com medo de como será tratada no hospital, que deseja ser ouvida, acolhida e ajudada. O Profissional da saúde há tempo precisa entender que antes do status social , vem o compromisso profissional de cuidar dos seres humanos nas suas mazelas e plenitudes. Esse é o juramento que muitos fazem ao final de seus cursos...
               ...Poderia passar horas escrevendo sobre a formação dos novos profissionais tanto pela necessidade/importância dessa discussão quanto pela a quantidade de váriaveis que perpassam nessa temática. Pórem, o intuito mesmo foi desabafar, provocar, estimular a reflexão para essa questão. Grato.