terça-feira, 15 de março de 2011

QUE PERFIL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE ESTÃO SENDO FORMADOS?

                                                                                                                             Por Teógenes de Oliveira


  
              Hoje ao retornar para meu setor de trabalho após uma reunião do grupo de humanização da maternidade que presto serviço deparei-me com uma cena que ia de encontro ao modelo de assistência humanizada e holística, e, que me fez refletir sobre a formação dos novos profissionais de saúde. Que referências eles estão tendo nas universidades? Como estão sendo formados? Que posturas, visões, atitudes estão adiquirindo nos centros de formação profissional/ pessoal?
               Na reunião discutia-se protocolos de assistência humanizada a mulher vítima de violência. Ao sair para reunião havia deixado alguns estudantes que estão no final dos seus cursos de formação profissional avaliando as pacientes que estavam em trabalho de parto. Ao retornar paro o serviço, encontro num quarto uma paciente que a pouco tempo havia chegado ao setor. A parturiente estava deitada, um estudante aferindo a pressão arterial, outro fazendo ausculta dos batimentos fetais, outro realizando o toque vaginal e um outro estudante à porta do quarto observando o exame. Ao ver a cena fiquei inquieto pela a quantidade de pessoas dentro do quarto, fazendo tudo ao mesmo tempo e sem preservar a integridade física da mulher. Perguntei a um dos estudantes o nome da paciente, mas nenhum soube responder. Na hora, pedi para todos se retirarem e pedi desculpas a paciente por ela está exposta daquela maneira.
                Ao chegar no posto de enfermagem sentei e refleti sobre aquela cena. Eu que a pouco tempo estava discutindo assistência a mulher vítima de violência vi uma parturiente ali: totalmente passiva no seu leito com pessoas que ela jamais conhecera anteriormente, mexendo, tocando, manipulando, observando...se quer sabiam seu nome ou tiveram interesse em saber. Estavam preocupados com a pressão, com os batimentos, com a dilatação... vi aquela mulher em trabalho de parto sendo violentada, não fisicamente, mas no seu direito de mulher e mãe. Violentada em seu anseios, nas suas vontades, no seu direito de escolha, de conhecimento. Violentada na sua liberdade, na liberdade do seu ser, ser humana.
                 Nesse contexto, há que se discutir os valores que estão sendo ensinados nas instituições de ensino superior, aqueles valores que não vemos e que não descobrimos através de exames e toques...os da dignidade humana. É preciso perceber o outro como ser humano, o outro que se entrega em nossas mãos, que nos confia suas necessidades, dores, pudores ecuidados...não como objeto de investigação, inerte, passivo, alheio de suas vontades. Gente cuidamos de seres humanos. GENTE cuidamos de GENTE!!!
                Estamos vivendo uma evervescência científica no tocante a novas percpções e condutas na assistência a saúde da mulher; tantos eventos, congressos, fóruns e debates que fomentam, juntam esforços e levantam a bandeira de uma nova (re)estruturação do modelo assistência a saúde da mulher, em especial, ao parto e nascimento humanizado. Contudo, me preocupa pensar que a medicalização do corpo feminino, o tecnicismo, o biologiscismo, a visão (re)cortada do ser humano, encontram-se ainda fortemente arraigados na formação em saúde e no próprio fazer saúde. Essas evidências são tantas durante nosso exercício profissional... parece que se continuam perpetuando aquela saúde bem antes da criação do PAISM (Política de Atenção Integral a Saúde da Mulher): direcionada a uma mulher recortada anatomicamente com a restrita função de procriação, sem qualquer direito;
                 Falta incluir nos currículos acadêmicos, ou melhor, inscitar, encorajar, fortalecer, ENSINAR e PRATICAR uma saúde voltada para o ser humano... para o idoso mal cheiroso cheio de feridas por conta da diabetes, da criança que passa fome e que bebe água contaminada, dos homens e mulheres depressivos consumidos pela própria sociedade, para a adolescente maltratada e abusada sexualmente... para aquela gestante ansiosa, com medo do trabalho de parto, com medo da vida que carrega no ventre, com medo de como será tratada no hospital, que deseja ser ouvida, acolhida e ajudada. O Profissional da saúde há tempo precisa entender que antes do status social , vem o compromisso profissional de cuidar dos seres humanos nas suas mazelas e plenitudes. Esse é o juramento que muitos fazem ao final de seus cursos...
               ...Poderia passar horas escrevendo sobre a formação dos novos profissionais tanto pela necessidade/importância dessa discussão quanto pela a quantidade de váriaveis que perpassam nessa temática. Pórem, o intuito mesmo foi desabafar, provocar, estimular a reflexão para essa questão. Grato.

Um comentário:

  1. Realmente Théo, faltam no mercado verdadeiros profissionais da saúde!!Que eles não façam falsos juramentos e que revejam seus conceitos do que é humanitário!!

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